Sarampo está voltando e mata pessoas. Surtos importantes
ocorreram recentemente em Pernambuco e Ceará. Antes de viajar para qualquer
lugar, verifique se já tomou 2 doses da vacina. Há poucos dias, nos Estados
Unidos, uma senhora faleceu devido ao vírus. Como ela tinha outras doenças, os
médicos tiveram dificuldades na identificação da causa do seu agravamento e não
fizeram diagnóstico de sarampo em vida. Grupos radicais e mal informados contra
a vacina, ao lado de uma legislação que permite recusa a vacina baseada em
crenças pessoais são as causas da recente epidemia naquele país. A internet tem
facilitado a difusão de conceitos equivocados, com aparência de conteúdo
científico, por exemplo, “as vacinas contém mercúrio como conservante e este é
o pior veneno que existe” ou “a vacina causa autismo”. A liberdade para as
pessoas não se vacinarem com base em crenças pessoais pode parecer apenas o
respeito a um direito individual. Este respeito pode gerar conflitos com o bem
estar da população. Na verdade, existem contra-indicações médicas a algumas
vacinas. Se um indivíduo é imunodeprimido (faz quimioterapia, tem HIV, idade
avançada, etc) pode ser arriscado o uso
de certas vacinas compostas de agentes vivos. Ele ficará protegido se houver
uma boa cobertura vacinal entre as pessoas que não tem distúrbios imunitários e
nos quais a vacinação praticamente não envolve riscos. Todas as vacinas
aprovadas são seguras para quase 100% das pessoas e as reações são geralmente
pequenas e sem importância. Então, não marque bobeira, vacine-se pois vale a
pena, os postos o atendem sem custo.
sábado, 18 de julho de 2015
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Zé gotinha, quem diria, precisa desaparecer!
Ainda não se definiu uma data mas o
emprego da vacina oral contra a poliomielite (ou seja, o “Zé gotinha”) vai
terminar, não só no Brasil, mas em todo o mundo. O Programa Nacional de
Imunizações do Ministério da Saúde já começou a tarefa: as crianças que
comparecem aos postos oficiais com dois e quatro meses de idade não recebem
mais a gotinha da vacina oral contra a paralisia infantil que é conhecida como “vacina
Sabin”. Esta vacina contém vírus da própria doença que foram enfraquecidos para
não causar malefícios e apenas provocar no corpo uma ótima proteção contra os
vírus selvagens. Nestas duas visitas, os bebês estão recebendo uma injeção com
outra vacina, também excelente, que não contém agentes vivos e é composta por
agentes inativados, ou seja, mortos. Os profissionais mais antigos reconhecem
esta poderosa arma preventiva como “vacina Salk”. Ela leva o nome de um
pesquisador que elaborou sua vacina alguns anos antes de Sabin. Usando a vacina
Salk, algumas nações eliminaram a paralisia infantil antes do aparecimento da
vacina Sabin. (É bom lembrar que, no mesmo atendimento, as crianças recebem, a
vacina oral contra rotavírus). Não há dúvida que a famosa gotinha prestou um
serviço estupendo no sentido de eliminar a paralisia infantil da superfície
terrestre. Seu uso é muito prático e ela é bem conhecida pela população. Nas
visitas subsequentes ao posto de vacinação, a vacina usada contém vírus vivos
atenuados. A transmissão da paralisia infantil pelo vírus selvagem ainda persiste
no Paquistão, Afeganistão e Nigéria, países onde os conflitos e guerras
dificultam muito o trabalho das equipes de saúde. Por isto, a gotinha ainda tem
uma jornada difícil pela frente. Mas é fácil entender por que seus dias estão
contados. Acontece que ela é formada por vírus vivos atenuados e capazes de
recuperar sua agressividade e causar paralisia. A doença causada pelo vírus
vacinal reativado é um fato que não se pode refutar. Isto praticamente não aparece
em países em todas as pessoas estão vacinadas ou, em outras palavras, há alta
cobertura vacinal. Mas ocorre sim, com frequência crescente, em algumas regiões
de cobertura baixa. Um detalhe essencial é que existem três tipos de vírus
causadores da poliomielite (tipos 1, 2 e 3) e a vacina contém formas abrandadas
dos 3 tipos. O tipo 2 selvagem já se considera eliminado da população humana
mas (em mais de 97% das vezes) é este tipo, temporariamente atenuado, que tem
se revelado capaz de se tornar, de novo, o grande destruidor das células
nervosas. A Organização Mundial da Saúde
vem trabalhando muito em diversos aspectos relacionados às vacinas, inclusive no
planejamento de uma substituição global e uniforme da vacina oral em favor da
injetável. Mas antes, haverá a substituição da vacina oral atual que contém configurações
suavizadas dos três vírus para uma forma bivalente, sem o tipo 2.
Com o emprego da vacina Salk a reversão
maléfica é impossível porque é composta de microrganismos mortos. Uma das suas
características mais importantes é a possibilidade de ser combinada na mesma
ampola com outras vacinas que os bebês precisam receber. Por exemplo, a vacina
conhecida pelo apelido de “hexa”, que é oferecida nos postos privados de vacinação,
contém componentes que protegem contra difteria, tétano, coqueluche, hemófilo b
(uma bactéria terrível que causa meningites e pneumonias) e hepatite B (este B
é mesmo maiúsculo, o outro é minúsculo), além do componente Salk.
Quem
quiser encontrar mais detalhes desta evolução na imunização deve ver, pelo
menos, Immunization Systems Management Group of the Global Polio
Eradication Initiative Introduction of Inactivated Poliovirus
Vaccine and Switch from Trivalent to Bivalent Oral Poliovirus Vaccine -
Worldwide, 2013-2016. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2015 Jul 3;64(25):699-702.
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