sábado, 18 de julho de 2015

Sarampo ainda mata, vacine-se




Sarampo está voltando e mata pessoas. Surtos importantes ocorreram recentemente em Pernambuco e Ceará. Antes de viajar para qualquer lugar, verifique se já tomou 2 doses da vacina. Há poucos dias, nos Estados Unidos, uma senhora faleceu devido ao vírus. Como ela tinha outras doenças, os médicos tiveram dificuldades na identificação da causa do seu agravamento e não fizeram diagnóstico de sarampo em vida. Grupos radicais e mal informados contra a vacina, ao lado de uma legislação que permite recusa a vacina baseada em crenças pessoais são as causas da recente epidemia naquele país. A internet tem facilitado a difusão de conceitos equivocados, com aparência de conteúdo científico, por exemplo, “as vacinas contém mercúrio como conservante e este é o pior veneno que existe” ou “a vacina causa autismo”. A liberdade para as pessoas não se vacinarem com base em crenças pessoais pode parecer apenas o respeito a um direito individual. Este respeito pode gerar conflitos com o bem estar da população. Na verdade, existem contra-indicações médicas a algumas vacinas. Se um indivíduo é imunodeprimido (faz quimioterapia, tem HIV, idade avançada, etc)  pode ser arriscado o uso de certas vacinas compostas de agentes vivos. Ele ficará protegido se houver uma boa cobertura vacinal entre as pessoas que não tem distúrbios imunitários e nos quais a vacinação praticamente não envolve riscos. Todas as vacinas aprovadas são seguras para quase 100% das pessoas e as reações são geralmente pequenas e sem importância. Então, não marque bobeira, vacine-se pois vale a pena, os postos o atendem sem custo.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Zé gotinha, quem diria, precisa desaparecer!


Ainda não se definiu uma data mas o emprego da vacina oral contra a poliomielite (ou seja, o “Zé gotinha”) vai terminar, não só no Brasil, mas em todo o mundo. O Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde já começou a tarefa: as crianças que comparecem aos postos oficiais com dois e quatro meses de idade não recebem mais a gotinha da vacina oral contra a paralisia infantil que é conhecida como “vacina Sabin”. Esta vacina contém vírus da própria doença que foram enfraquecidos para não causar malefícios e apenas provocar no corpo uma ótima proteção contra os vírus selvagens. Nestas duas visitas, os bebês estão recebendo uma injeção com outra vacina, também excelente, que não contém agentes vivos e é composta por agentes inativados, ou seja, mortos. Os profissionais mais antigos reconhecem esta poderosa arma preventiva como “vacina Salk”. Ela leva o nome de um pesquisador que elaborou sua vacina alguns anos antes de Sabin. Usando a vacina Salk, algumas nações eliminaram a paralisia infantil antes do aparecimento da vacina Sabin. (É bom lembrar que, no mesmo atendimento, as crianças recebem, a vacina oral contra rotavírus). Não há dúvida que a famosa gotinha prestou um serviço estupendo no sentido de eliminar a paralisia infantil da superfície terrestre. Seu uso é muito prático e ela é bem conhecida pela população. Nas visitas subsequentes ao posto de vacinação, a vacina usada contém vírus vivos atenuados. A transmissão da paralisia infantil pelo vírus selvagem ainda persiste no Paquistão, Afeganistão e Nigéria, países onde os conflitos e guerras dificultam muito o trabalho das equipes de saúde. Por isto, a gotinha ainda tem uma jornada difícil pela frente. Mas é fácil entender por que seus dias estão contados. Acontece que ela é formada por vírus vivos atenuados e capazes de recuperar sua agressividade e causar paralisia. A doença causada pelo vírus vacinal reativado é um fato que não se pode refutar. Isto praticamente não aparece em países em todas as pessoas estão vacinadas ou, em outras palavras, há alta cobertura vacinal. Mas ocorre sim, com frequência crescente, em algumas regiões de cobertura baixa. Um detalhe essencial é que existem três tipos de vírus causadores da poliomielite (tipos 1, 2 e 3) e a vacina contém formas abrandadas dos 3 tipos. O tipo 2 selvagem já se considera eliminado da população humana mas (em mais de 97% das vezes) é este tipo, temporariamente atenuado, que tem se revelado capaz de se tornar, de novo, o grande destruidor das células nervosas.  A Organização Mundial da Saúde vem trabalhando muito em diversos aspectos relacionados às vacinas, inclusive no planejamento de uma substituição global e uniforme da vacina oral em favor da injetável. Mas antes, haverá a substituição da vacina oral atual que contém configurações suavizadas dos três vírus para uma forma bivalente, sem o tipo 2.     
Com o emprego da vacina Salk a reversão maléfica é impossível porque é composta de microrganismos mortos. Uma das suas características mais importantes é a possibilidade de ser combinada na mesma ampola com outras vacinas que os bebês precisam receber. Por exemplo, a vacina conhecida pelo apelido de “hexa”, que é oferecida nos postos privados de vacinação, contém componentes que protegem contra difteria, tétano, coqueluche, hemófilo b (uma bactéria terrível que causa meningites e pneumonias) e hepatite B (este B é mesmo maiúsculo, o outro é minúsculo), além do componente Salk.


Quem quiser encontrar mais detalhes desta evolução na imunização deve ver, pelo menos, Immunization Systems Management Group of the Global Polio Eradication Initiative  Introduction of Inactivated Poliovirus Vaccine and Switch from Trivalent to Bivalent Oral Poliovirus Vaccine - Worldwide, 2013-2016. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2015 Jul 3;64(25):699-702