Criança em coma nem sempre é caso grave
Anos atrás, eu trabalhava muito em Pronto Socorro Infantil. Quase no final de um plantão, chegou uma criança de 5 anos, praticamente em coma. A família tinha deixado a criança por algumas horas com a empregada, mas esta estava muito ocupada nos quartos da residência. Ao retornarem à casa encontraram a criança “dormindo” muito, na sala. Era uma criança normal até este episódio. Quando procurei cheirar o hálito do pequeno, a mãe me disse que tinha esfregado álcool no rosto numa tentativa de acordar o menino.
Um dos familiares usava medicamento sedativo diariamente, mas garantiram que a caixa não fora tocada. Logo pedi exames e prescrevi soro glicosado endovenoso. O colega que assumiu o plantão teve o prazer de ver a criança melhorar rapidamente. Após confabulações entre os familiares, eles informaram que encontraram um frasco de licor “escondido” atrás de um brinquedo grande, com nível diminuído. Uma das pessoas da família ingeria diariamente algumas doses desta bebida. Na verdade, o caso era um quase coma alcoólico e o menino se recuperou totalmente. É provável que a família já sabia da ingestão da bebida mas, de inicio, procurou esconder, talvez pensando em não expor o parente etilista. Em algumas condições, o médico precisa ter “desconfiômetro” aguçado e buscar dados que a família prefere esconder, por exemplo, nas casos de violência contra a criança mas este será outro post.