O Supremo Tribunal Federal obrigou a
USP a fornecer fosfoetanolamina aos pacientes que a solicitarem mas esta
orientação é polêmica. Provavelmente o juiz não se apoiou em opiniões de
profissionais do ramo.
Nestes mais de 50 anos de exercício de
prática médica, já vi muitas “ondas” terapêuticas. Todas passaram porque lhes
faltava base real. Esta também vai passar e não deixar saudades. São três as razões.
1. Nenhuma ação terapêutica tem eficácia curativa
contra TODOS os tipos de câncer. Tumores resultam de multiplicação celular
anormal mas as células diferem muito entre si como também existem diferentes
formas de danificar estas células. É um sonho acreditar que haverá apenas um
agente capaz de curar ou aliviar todos os tipos de neoplasia maligna.
2. Cada medicamento contra câncer atua em uma ou mais
fases do processo de multiplicação celular. Mas estas fases também ocorrem em
células normais. Por isso, estes agentes terapêuticos sempre apresentam efeitos
adversos significativos, que precisam ser bem conhecidos e ponderados em combinação
com a esperança de resultados favoráveis.
3. Nossa imunidade nos ajuda a eliminar a maioria das
células anormais que poderiam causar câncer porque os mecanismos de
proteção reconhecem e eliminam aquelas que podem iniciar um distúrbio maligno.
Ampliar os mecanismos imunitários indistintamente é outra aspiração fantasiosa
e qualquer tentativa neste sentido precisa ser estudada com muito critério, sob
risco de complicações muito graves.
Por
enquanto, as autoridades sanitárias poderiam formar um grupo de estudo capaz de
propor um protocolo para cumprir as etapas de pesquisa, tanto em animais
como em seres humanos. Pela sua complexidade e necessidade de observar diversos
requisitos, não se pode pensar em um processo rápido como alguns sugerem.
Também não se faz isto sem um amplo investimento para pagar profissionais,
utilizar espaços de estudo e atendimento como também comprar diferentes tipos
de equipamentos. Pode parecer um trajeto longo, caro e penoso mas não existem
atalhos.