terça-feira, 8 de setembro de 2015

A cólica de sexta-feira


A consulta aconteceu numa tarde de sexta-feira. O menino tinha perto de cinco anos de idade e a mãe informava que ele sentia cólicas abdominais fortes com alguns vômitos, há cerca de duas horas. Não tinha outras queixas importantes nem constatei qualquer alteração no exame físico. Foi medicado com medicamentos antiespasmódicos e melhorou. Não soube mais da criança até a sexta-feira seguinte, quando a mãe voltou pois, há poucas horas, apresentava quadro semelhante ao anterior. O exame físico também não ajudou, como ocorreu na consulta anterior. Outra semelhança é que a criança, na sexta a noite, iria ficar com pai, que tinha se separado mãe. Entrando em detalhes sobre esta questão, percebi que a jovem mãe ainda sentia muita mágoa, desconfiança e ressentimento contra o ex-marido e não fazia questão de esconder tais sentimentos negativos. Em sua opinião, o ex-marido não sabia alimentar corretamente a criança e nem como cuidar dela. Talvez, de forma inconsciente, pretendia colocar a criança também contra o pai. E isto deixava o garoto muito inseguro na hora de ficar com ele, longe da mãe, durante o final de semana, como tinha sido estipulado pelo juiz. O diagnóstico era dor abdominal psico-funcional.
A dor abdominal psico-funcional é uma condição bem conhecida dos pediatras. Surge em crianças predispostas, geralmente em idade escolar ou pré-escolar. A crise de dor aparece em fases de ansiedade, por exemplo, antes de provas, audições ou mudanças. Podem preceder até eventos muito aguardados pela criança, como a sofreguidão anterior às viagens ou visitas de pessoas queridas. A dor quase sempre se localiza na região ao redor do umbigo, sem irradiação e os vômitos não são raros. O exame físico é praticamente normal, permitindo que o médico exclua uma enfermidade aguda de caráter grave, tipo apendicite. Antecedentes de dor abdominal ou doença gastroduodenal em pessoas da família são comuns.

No caso acima descrito, o encontro com o pai trazia muita apreensão ao menino pois gostava dele mas estranhava sua nova companheira e tinha medo dela. Mas o pior era a insegurança, transmitida pela mãe, quanto à capacidade do pai para cuidar dele.

NB: 
Aos meus clientes: houve alteração no meu contrato com o estacionamento, se marcar consulta, informe-se sobre as mudanças. :

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